Sobre Igreja, Política e eleições
Pe. Antonio Aparecido Alves
Doutor em Teologia e Docente na Faculdade Católica de São José dos Campos
Novamente, eleições. E isto é bom, pois faz parte do jogo democrático. No entanto, se não nos cuidamos, acabamos identificando “política” com “eleições”, “candidatos” e “partidos”. Aliás, há políticos que identificam estas duas realidades, pois começam a trabalhar desde o primeiro dia do mandato pela sua reeleição. Por outro lado, alguns cidadãos também fazem esta identificação e omitem-se em participar ativamente da vida política, achando que basta apenas pressionar o “confirma” a cada dois anos e pronto. São duas atitudes extremamente danosas à democracia!
Infelizmente, é necessário admitir que, em geral, a própria Igreja reforça esta identificação. A cada dois anos (ano eleitoral!) faz-se uma cartilha política, divulgam-se cartazes, realizam-se debates, organizam-se encontros, escrevem-se artigos, fala-se na Rádio, entre outros. Infelizmente, não há um trabalho contínuo e progressivo de “educação política” de nossos fiéis leigos, nas diversas comunidades, pastorais, grupos, movimentos e espiritualidades. Por isto, esta temática fica restrita às Pastorais sociais, à Comissão sociopolítica, à Escola de Política e Cidadania e nada mais, sendo que o Documento de Aparecida salienta que esta dimensão sociopolítica deveria perpassar transversalmente toda a vida pastoral da Igreja.
É preciso lamentar o ditado popular, amplamente difundido, de que “futebol, religião e política, não se discute”. Talvez, por causa disto, torcidas rivais atacam-se após as partidas, absurdos são praticados supostamente em nome de Deus e a política torna-se uma questão privada. É necessário adotar outro ditado, que diz: “É conversando que a gente se entende”, pois isso é o melhor que se pode fazer, seja em questão de futebol, religião e política, além de outros assuntos. Quem não quer discutir e tem medo do confronto de ideias e do debate, nunca vai sair do lugar comum. Além disso, nunca irá “pensar”, pois a discussão obriga a justificar os pontos de vista, a ter argumentos lógicos, a fundamentar posições.
Evidentemente há aqueles que vivem “da” política, fazendo dela um meio de vida e têm um horizonte estreito. Esses não têm escrúpulos em beneficiar a si mesmos de maneira desonesta, bem como a parentes e correligionários, com o exercício do poder político. É preciso sempre mais denunciar isto, pois o exercício de um mandato eletivo não pode ser encarado como meio de vida e nem como a única maneira de empenhar-se pelo bem comum. Aquele que tem “vocação política” será criativo, descobrindo novas formas de empenhar-se pelo bem de todos, mesmo que não seja de maneira remunerada, e irá suscitar outras lideranças, para que ele mesmo seja substituído.
Hoje, mais do que no passado, entendemos que não basta ter a “ficha limpa” para ser, automaticamente, um bom candidato. É necessário ter uma “ficha cheia” de serviços prestados à sociedade, depois de anos de dedicação à coletividade, de militância em sindicatos, ONGs, Amigos de bairro, Conselhos Paritários e outras organizações político-sociais. Desconfiemos de candidaturas que surgem do nada.
Precisamos “rever nossos conceitos” e praticar uma política que se estenda para além das eleições, pois esta é apenas um momento da vida democrática. Depois, vem o mais importante: participar dos eventos políticos de seu bairro, condomínio ou categoria profissional; filiar-se a algum grupo que se empenha pelo bem comum; acompanhar o trabalho dos eleitos em todos os níveis e outras iniciativas populares.
Enfim, é urgente sair desta “ciranda eleitoral”. É este o momento para fortalecer o engajamento de todos, criando uma “cultura política da participação”. Esta é a hora. Pensemos grande. Pensemos no amanhã. Como diz o refrão de uma música conhecida, “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.
Muito bem colocado Padre, também acredito que a Fé sem Obras é morta, e a política é a forma mais sublime de exercer a caridade…Parabéns