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Artigos › 01/04/2015

Rito de Incensação

O costume de utilização do incenso em cultos religiosos é muito presente em várias culturas, assim, o cristianismo herdou da tradição judaica esse  costume e o utiliza para a “purificação”, para demonstrar que algo tem um caráter especial e,  como símbolo das nossas orações elevadas ao céu com a fumaça do incenso.

Nos primórdios, a resina gomosa utilizada no incenso era extraída da árvore Boswellia Carteri, arbusto que cresce na Ásia e na África, mas com o passar do tempo foi sendo substituída por outros tipos de resinas gomosas, através de procedimentos químicos, e de outros vegetais como, por exemplo, de rosas.

No cerimonial dos bispos, duas passagens das sagradas escrituras fundamentam o uso do incenso como sinal de reverência e oração[1]: “Suba minha prece como incenso em tua presença, minhas mãos erguidas como oferta vespertina” (Sl 141,2) e “outro Anjo veio postar-se junto ao altar, com um turíbulo de ouro. Deram-lhe grande quantidade de incenso para que o oferecesse com as orações de todos os santos sobre o altar de ouro que está diante do trono” (Ap 8,3).

Com a evolução da liturgia e sua compreensão, de forma especial com a renovação que o Concílio Vaticano II, a utilização do incenso permaneceu com toda seu significado, importância e dignidade. Entretanto, há muitas dúvidas da maneira como incensar e de como realizar tal ato, que foi sendo deturpado com o passar do tempo e adaptado à maneira de cada pessoa ou de cada realidade.

Só existem duas formas de realizar a Incensação: os ictos (movimento único do turíbulo com uma pausa entre eles e não sucessivos) e o ductos (movimento duplo consecutivo do turíbulo com uma pausa se for realizado mais ductos)[2]. Dessa forma, nas liturgias o uso dos “trictos” é uma “adaptação” que o cerimonial dos bispos e a instrução geral do missal romano não mencionam.

Agora segue um esquema para utilização dos ictos e ductos e qual tipo de inclinação é feita.

O uso de três ductos do turíbulo (movimento de três ductos realizado três vezes com um intervalo entre eles) é utilizado para[3]:

  1. O Santíssimo Sacramento.
  2. As relíquias da santa cruz.
  3. As imagens do Senhor expostas para veneração pública.
  4. As oferendas para o sacrifício da missa.
  5. A cruz do altar.
  6. O Evangeliário.
  7. O Círio Pascal
  8. O sacerdote
  9. O povo.

O uso de dois ductos do turíbulo (movimento de dois ductos realizado duas vezes com um intervalo entre eles), realizado apenas UMA VEZ após a Incensação do altar, é utilizado para[4]:

  1. As relíquias dos santos expostas à veneração pública.
  2. As imagens dos santos expostas à veneração pública.

O altar é incensado com em só ducto, por vez, movimentando-se ao redor dele[5].

A Incensação no início da celebração eucarística deve proceder da seguinte forma[6].:

  • Cruz (se estiver atrás do altar caso contrário quando passar diante dela)
  • Altar
  • Círio Pascal
  • Imagem dos santos

A Incensação no ofertório da celebração eucarística deve proceder da seguinte forma[7]:

  • Oferendas (três ductos ou sinal da cruz)
  • Cruz
  • Altar

O uso das inclinações se manifesta “a reverência e a honra que se atribuem às próprias pessoas ou aos seus símbolos”[8]. Nas celebrações litúrgicas temos dois tipos de inclinações, a saber:

  1. Inclinação Profunda[9]: que seria o movimento de inclinar o corpo realiza-se para os seguintes casos.
  2. Ao altar
  3. Aos bispos
  4. Às orações.
  5. No credo (e se encarnou)
  6. No Canon Romano (Nós vos suplicamos)
  7. Diácono quando pede a benção para proclamar o evangelho.
  8. Sacerdote na consagração.

Quando temos o uso do incenso na celebração da eucaristia, a inclinação profunda deve ser feita antes e depois para a pessoa ou objeto a ser incensado. Entretanto, não se realiza a inclinação profunda ao altar e nem para as oferendas recebidas para a celebração da missa[10].

No que diz respeito à inclinação profunda ao Altar e ao Bispo, ambos recebem , mas quando o bispo estiver sentado atrás do altar, deve-se evitar passar no meio de ambos por respeito para com um e para com o outro, mas se for necessário a reverência para o bispo será de acordo com a necessidade/serviço a ser realizado, por exemplo: se for algo relacionado a pessoa do bispo a reverência é feita para ele ou se for algum serviço relacionado ao altar faça a reverencia para o altar[11].

  1. Inclinação de Cabeça[12]: que trata do movimento de uma leve inclinação da cabeça que é realizado nos seguintes casos
  2. Quando se nomeiam juntas as três pessoas divinas
  3. Ao nome de Jesus
  4. Ao nome da Virgem Maria
  5. Ao nome dos santos em cuja honra se celebra a missa.

Enfim, toda essa dinâmica precisa ser entendida como algo que mostra respeito e dignidade e não como “meros” ritos que precisam ser seguidos, pois fazem parte da nossa história, e como cristãos católicos precisamos reconhecer e valorizar a riqueza de nossa Igreja através desses momentos.

Padre Luiz Gustavo Santos Teixeira
Mestre em Liturgia pela PUC-SP


[1] Cf. Cerimonial dos bispos n. 84.

[2] Cf. Cerimonial dos Bispos n. 92-93 e IGMR n. 276-277.

[3] Cf. Cerimonial dos Bispos n. 92 e IGMR n. 277.

[4] Cf. Cerimonial dos Bispos n. 92 e IGMR n. 277.

[5] Cf. Cerimonial dos Bispos n. 92 e IGMR n. 277.

[6] Cf. Cerimonial dos Bispos n. 93 e IGMR n. 277.

[7] Cf. Cerimonial dos Bispos n. 93 e IGMR n. 277.

[8] Cf. Cerimonial dos Bispos n. 68 e IGMR n. 275.

[9] Cf. Cerimonial dos Bispos n. 68 e IGMR n. 275.

[10] Cf. Cerimonial dos Bispos n. 91.

[11] Cf. Cerimonial dos Bispos n. 76-77.

[12] Cf. Cerimonial dos Bispos n. 68 e IGMR n. 275.

8 Comentários para “Rito de Incensação”

  1. Gostaria de saber porque tem missa que se usa o incenso e outras não.

    • Rafael de Sousa disse:

      Prezado Carlos, respondendo a sua dúvida e buscando também nos mesmos livros em que o diácono usa como referência, quero deixar claro que em toda missa se pode usar o incenso, só que no Brasil tem o costume de usar somente em grandes solenidades como Tríduo Pascal, Natal de Nosso Senhor, etc. também quero deixar claro que existe dois tipos de missa (um termo não muito bom) a simples e solene. Missa Simples é aquela em que se reza todo ordinário da missa e omite-se o Glória e Credo, que é celebrada geralmente durante a semana e missa solene onde não se omite o Glória e Credo e se canta o Ordinário da missa e outras partes, em que o sacerdote entoa solenemente. Missa simples o uso do incenso é opcional como nas solenes, mas não há nada que impeça de ser usado.
      Uma pequena correção ou acréscimo ao artigo do diácono em relação ao “trictos”, esse movimento utilizado para incensar, era o que o missal utilizado até a reforma conciliar previa para o sacerdote incensar, no que se refere ao três ductos de hoje.
      Espero ter ajudado. Pax et bonum

  2. Francisco Bueno disse:

    Muito lindo e gratificante o Mistério de Cristo que a nossa Igreja anuncia e celebra na Liturgia. O assunto tratado por ora contribui muito para a liturgia nas diversas paróquias. Parabéns!

  3. Celso disse:

    Muito legal, e esclarecedor.

  4. Ana disse:

    Além de muito esclarecedor, o texto contribui para diversas pastorais, acredito que o site de nossa diocese merece mais textos como esse.

  5. Ana disse:

    Além de muito esclarecedor, o texto contribui para diversas pastorais, acredito que o site de nossa diocese merece mais textos como o mesmo.

  6. Priscila disse:

    Muito esclarecedor. Aqui na Paróquia da minha cidade (Dourado, SP) eu ajudo como Ancila. Quando fico com o turíbulo, sempre tenho dúvida de como incensar. Mas agora esclareceu. Muito obrigada.

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