Solenidade do Sagrado Coração de Jesus
A solenidade do Sagrado Coração de Jesus, na linha das festas anteriores, é mais um desenvolvimento da inesgotável riqueza do mistério pascal e da revelação do amor de Deus no dom de Cristo. Um problema é que o simbolismo do coração, nos tempos modernos, foi interpretado num sentido um tanto sentimental, alheio à sobriedade da tradição litúrgica.
Na antropologia bíblica, o coração é a sede da inteligência e da vontade, e não do sentimento, enquanto o culto ao Sagrado Coração, banhado no romantismo europeu, contemplava exatamente os sentimentos de Jesus, simbolizados pelo coração. Essa incongruência nos convida a ampliar a perspectiva desta festa, tornando-a uma celebração de toda a personalidade de Jesus, personalidade determinada pelo amor de Deus que nela vibra: a revelação do amor de Deus em Jesus Cristo.
Considerando a situação de desesperança que se manifesta de tantas formas entre nós, a celebração é um convite a todos os cansados, todos os que vivem aprisionados e fadigados, para que venham repousar em Jesus que é “manso e humilde de coração”. Desta forma, a solenidade evidencia a necessidade de aumentar a esperança cristã. No coração de Jesus, a vida ganha outra dimensão, a esperança não se prende somente às realidades terrenas, mas transcende para um dia, na eternidade, viver plenamente no amor misericordioso de Deus.
A festa do Sagrado Coração nos propõe um critério para o amor: Jesus. Na sua natureza humana, com seus sentimentos humanos, com sua coragem humana, com a fidelidade humana do compromisso com o próximo e com todo o povo de Deus. Jesus nos ensina que o amor é o desejo que deve nos impulsionar, amar é dar sua vida, é entregar-se.
A solenidade do Sagrado Coração de Jesus nos convida para um cristianismo afetivo, porém não sentimentalista, nem dualista ou puritano, mas puro e cordial. Um cristianismo da pessoa toda, assim como Deus nos amou na “carne”, na humanidade total de Jesus de Nazaré.
Amilton Gonçalves Cruz
Instituto Franz de Castro Holzwarth